17 fevereiro, 2007

Confusão Partidária

Quantas vezes, já não ouvimos nós , pessoas dizerem, em tom queixoso, que Partido Socialista e Partido Social Democrata são " a mesma coisa " ? Que não existem diferenças entre os dois, pelo menos, no plano práctico da sua acção política? É precisamente, sobre a práctica política que incidirei na minha dissertação, dispensando-me, de uma análise aos pressupostos teóricos e programáticos dos dois partidos em questão, uma vez, que não é nesse sentido, que as comparações igualitárias e as pseudo-semelhanças ,entre ambos, são levantadas.

Começo, com uma nota, desde já, diferenciadora da acção dos dois partidos. A questão da comunicação social, que hoje, se assume, verdadeiramente, como o quarto poder da nossa sociedade, capaz de, dar a ganhar umas eleições ou ajudar a derrubar um governo, por exemplo. Neste sentido, penso ser do conhecimento de todos, a diferença de relacionamento entre o PS e o PSD em relação ao tratamento que recebem ( e que dão ) à Comunicação do Social. É hoje, practicamente, assumido por todos, inclusive, pelos apoiantes e militantes do Partido Socialista, que este controla, verdadeiramente, a comunicação social, com especial enfoque para o governo presidido pelo Engenheiro José Socrates. Alguns exemplos:

  1. Aumento dos impostos. No dia em que o Engenheiro Sócrates decidiu aumentar o IVA de 19 para 21% ( ao contrário do anunciado meses antes na campanha eleitoral), os jornais deram uma importância mínima ao facto, não sendo esta notícia, abertura dos telejornais televisivos nem sofrendo especial destaque nos outros meios de comunicação social. Ainda, que habilmente, o Engenheiro Sócrates tenha escolhido o dia do aumento dos impostos, logo a seguir ao Benfica se sagrar Campeão Nacional, a Comunicação Social protegeu tremendamente esta iniciativa. Quando foi o Primeiro-Ministro Durão Barroso, a tomar, a mesmíssima medida, lembro-me, de durante uma semana a fio, ter-se debatido, falado, noticiado, entrevistado, criticado severamente, esta medida. Uma diferença colossal.
  2. Quando o ministro mais importante do Governo PS, Luís Campos e Cunha, ministro das finanças, se demite do governo, após 4 meses da tomada de posse ( Hoje o Dr.Campos e Cunha critica as opcções do governo PS), as estações televisivas convidaram os seus comentadores políticos para durante 5 a 7 minutos abordarem este tema, no meio do espaço noticioso. Quando um ministro secundário, como é o Ministro do Desporto, Henrique Chaves, se demitiu do governo do Dr. Santana Lopes, lembro-me perfeitamente de se terem feito debates e aberturas de todos os telejornais. Chegou-se a fazer debates com 10 e 12 pessoas. Pressionou-se de tal forma, que o Presidente Sampaio dissolveu a Assembleia da Republica ( curiosamente poucos meses depois de o Eng.Socrates ter chegado à liderança do PS, encontrando-se este reorganizado e preparado para disputar eleições).
  3. Quando o ministro da Economia do governo PS, Manuel Pinho, numa viagem à China, tece comentários absolutamente inaceitáveis, sobre o nível salarial dos Portugueses, numa das analogias mais graves, que me lembro ter ouvido nos últimos anos, um caso verdadeiramente grave, e quanto a mim, conducente a uma demissão " na hora " ( para utilizar uma expressão que o Primeiro-Ministro tanto gosta) falou-se disso 2 ou três dias na Televisão, sem grande destaque. Quando dois ministros do governo PSD, do Dr.Santana Lopes, exprimiram opiniões diferentes sobre a mesma situação, as televisões e os seus " sábios " analistas políticos pediram a demissão do Governo Inteiro.
  4. Quem não se lembra do burburinho que se fez com o fim-de-semana que Pedro Santana Lopes passou no Algarve? Alguém se lembra de tamanhas críticas, quando o Engenheiro Sócrates foi para um safari no Quénia 10 dias, quando o país estava a arder?

Enfim, poderia estar aqui horas e horas a abordar esta questão, que teria tema para escrever. Contudo, penso, não ser necessário maçar o leitor, com uma dicotomia que me parece tão evidente. Felizmente, neste ponto, cada vez mais pessoas se apercebem desta realidade.

Desejo agora, exprimir a diferença entre a práctica governativa dos dois partidos, precisamente, salientando, uma temática que tantas vezes abordo : A sobrevalorização de valores fundamentais, a quebra de tradições e a banalização de principios estruturantes da nossa sociedade. Muitas vezes, periodifico, este fenómeno, referindo a sua recente afirmação. Ora bem, nos ultimos 10 anos, o PSD teve responsabilidades governativas durante 2 anos, 2 anos e meio, o Partido Socialista durante 8 anos. Atribuam-se as responsabilidades políticas e sociais a quem realmente as deve assumir.

Por outro lado, mais uma dicotomia se realça. Os melhores anos, a nível socio-económico, o período onde os índices de confiança e de crescimento económico estiveram mais altos, onde mais se construiu e prosperou, foram os 10 anos de governo do Prof.Cavaco Silva. Estes anos, contrapõe-se com os piores anos desde a estabilização governativa do início dos anos 80, os 6 anos do governo de António Guterres, que levaram Portugal para o fundo.

Foi o Governo do Partido Socialista, presidido pelo Engenheiro José Socrates, que fechou urgências, encerrou maternidades e abriu clínicas abortivas. Foi o governo de Sócrates que mais contribuiu para o abaixamento dos índices da taxa de natalidade.

Por último, uma última diferença, mais perceptivel temporalmente, por ter sido notada, mais recentemente. O PS, impôs, na práctica, disciplina de voto, quando ao referendo, do último 11 de Fevereiro. Fez campanha, ergeu outdoors, utilizou o facto derivado de estar a governar para utilizar todos os meios possível para fazer a campanha eleitoral. Partidarizou uma questão que não pode, nunca, ser partidarizada. O PSD, foi o único partido em Portugal, que não interferiu na campanha, onde nomes sonantes do Partido defenderam ora o Sim ora o Não, o partido que não ergueu um unico outdoor sobre esta questão. O PSD pressupõe a multiplicidade de opiniões, o PS não. Esta é também uma grande diferença.

Mas nem tudo são diferenças, hà talvez, uma semelhança. É que a maior parte dos quadros do PSD provêm da JSD. Mas o mais alto quadro do PS, o primeiro-ministro, José Socrates, também começou na JSD. Por inoperância da JS? Por esta ser uma juventude parada no tempo, e ultrapassada em termos de actividade, até pela JCP?

Que pena tenho, que o nosso primeiro-ministro, não tenha aprendido qualquer coisa dos seus tempos de militância na Juventude Social Democrata.

5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

JSD JSD JSD

8:33 da tarde  
Blogger Ze do Telhado said...

Não vamos por aí, caríssimo Tiago. O PSD tem responsabilidades políticas de facto no Estado do país. Esses períodos de 2 anos que referiu são suficientes para implementar uma mudança radical. Também saberá que os 10 anos de Cavaco não foram o “el dorado”, e há variadíssimas razoem para esse tempo de "vacas gordas".
Dizer-se-á com frequência que PS e PSD são a mesma coisa e isso tem uma razão de ser. A sua inoperância e falta de coragem são os principais motes de comparação entre os dois partidos. O PSD foi falhando consecutivamente na implementação de políticas reais de direita, que o distingam do PS, mais concretamente nos anos de governação de Durão. Mas repare-se, não é o PSD que está mal, foi o PS que se deslocou para centro-esquerda. O PSD que se intitula de direita - e que tem vários elementos de direita no seu aparelho - nunca deveria ter-se colocado com presunção nesse patamar, porque trai a própria designação.
Sem ignorar que o jogo tem regras diferentes consoante a governação de um ou outro partido, não é por aí que deve incidir um discurso. Chega de vitimização, de insistência na defesa do aparelho partidário. Os partidos arruínam Portugal. Não se pode governar para o partido, tem de se governar para a Nação.
Todavia, é bom saber que ainda há pessoas como você, dispostas a mudar, dentro do possível, o rumo do sistema, tratando-o por dentro, se é que ainda é possível.
Força.

Saudações

2:32 da tarde  
Blogger Tiago Mendonça said...

Caro Ze do Telhado,

Incidirei sobre três pontos, na resposta a sua análise.

1-Quanto ao Governo Cavaco Silva. Não terá sido o " El Dorado ", mas é, de longe, o melhor governo do pós 25 de Abril. E se as condições que o Prof.Cavaco Silva tinha para governar eram boas, que podemos dizer das condições que dispunha o Eng.Guterres, que começou a governar com os cofres cheios? Não poderemos ainda ter dúvidas, que no PSD existem muito melhores quadros que no PS (não quer dizer que não existam boas pessoas no PS e más pessoas no PSD), em termos globais. Para lhe dar um exemplo, no meu Concelho, Loures, das 18 freguesias uma é social-democrata e as outras são divididas pelo Partido Comunista e pelo Partido Socialista. A que tem maior prosperidade é sem duvida a freguesia social-democrata.

2-A questão de 2 anos darem ou não darem para mudanças profundas.Até poderiam dar, se existissem condições para isso. Durão Barroso, passou o seu mandato, a criar condições estruturais e a re-equilibrar o país que se encontrava muito débil depois dos 6 anos da governação Socialista. Espanha, cresceu o que cresceu, porque beneficiou de 12 anos de governo de Aznar. Só para dar um exemplo.

3- Quanto a, eu próprio, querer mudar o sistema por dentro. Penso que no quadro democratico actual, os partidos politicos, revestem-se de uma especial importância e são essenciais À configuração práctica do modelo democrático. Luto, todos os dias, para expor as minhas ideias, debatendo-as, e fazer valer as minhas teorias, tentando melhorar o Partido que me Orgulho pertencer. Os militantes escolhem. A partir dai so me cabe apoiar quem legitimamente foi eleito, mas garanto-lhe que internamente, no momento opurtono e na sede próprio luto pelos meus ideais e pelo que penso ser melhor para Portugal.

Agradeco o seu comentário, e as ideias que traz a debate. Todo o debate de ideias é util para nos podermos desenvolver intelectualmente e gerar ideias que possam ser uteis a nossa sociedade.

11:50 da tarde  
Blogger Augusto Emilio said...

Caro Tiago

É sempre com irremediável prazer que leio os seus textos, querendo desde já manifestar o meu apreço por si mesmo que a minha opinião neste caso não partilhe da sua. Como defensor do liberalismo económico tenho que admitir (por muito que me custe) que nesse sentido, foi este governo de caudilheiros que mais tem feito para se aproximar. É facto que este embusteiro do socrates mantém a linha politica soarista da cleptocracia e do lobismo persecutor de todos os que se opõem (veja-se patrick monteiro de barros). Mas o que é certo é que a nível de libertação da economia, arrisca-se a ser o melhor governo desde o abril negro.
O centrismo de ambos confunde-os, porque o PSD ao abandonar políticas sociais de direita e o PS, políticas económicas de esquerda perdem-se numa amorfidade doutrinal. É certo que PSD acaba por manter uma perspectiva económica de direita e PS, uma defesa dos ideais sociais de esquerda (como o aborto). Mas isso são apenas pequenos brindes para não desapontarem totalmente os apoiantes que mantém uma forte crença no ideal político que de inicio os movia.
Como o alvo de ambos é o centro, e a multidão de pessoas que esperam sempre que a chuva caia na sua horta. Para tal adoptam uma posição populista e de governação ambi-ideológica, que como o sr. zé do telhado referiu: "Não se pode governar para o partido, tem de se governar para a Nação", mas é o que fazem.
Concordo também que "os partidos arruinam Portugal". Sei que é um defensor da democrática existência dos partidos politicos, mas estes apenas favorecem o laxismo, a corrupção e a falta de qualidade governativa, pelo que não posso sequer ponderar a intervenção num universo deste tipo.
Pela admiração que lhe tenho, e pela sua saúde intelectual e ética, aconselho-o vivamente a abandonar esses circulos, e continuar de viva voz a contribuir para o debate e a qualidade ideológica de um Portugal melhor. Isto antes que o buraco negro da politica o absorva na sua verborreia acéptica e demagogia estéril.

Um abraço

Bem-haja!

12:30 da tarde  
Blogger Tiago Mendonça said...

Caro Augusto Emílio,

É também com prazer, que observo que aprecia o que escrevo. É um dos objectivos deste espaço ; Proporcionar ao leitor, um texto agradável, elucidativo e útil.

Não concordo consigo quando diz que o Engenheiro Sócrates tem sido o primeiro ministro que mais contribuiu para a afirmação do liberalismo económico. De todo. No máximo, será o primeiro-ministro que mais diz que vai liberalizar a economia. Mas liberalização até agora, só mesmo a do aborto.

Quanto a minha actividade politico-partidária, saliento um ponto, que já foquei, anteriormente. Acredito e luto pela democracia todos os dias. O Poder deve residir no povo, e nunca, em ninguém, que se auto-intitula como salvador da pátria. A democracia deve ser total. A única coisa que defendo é que a liberdade, tem sido mal usada, tem sido empregue de forma ruinosa. Que existe um descrédito das tradições e uma quebra de valores. Que a liberdade de uns esbarra na liberdade de outros ,príncipio elementar da democracia e da própria vida em sociedade. E se isso acontece, devemos fazer algo. Ainda há dias um amigo meu, foi impedido de entrar numa discoteca por ter excesso de idade! É verdadeiramente vergonhoso o estado em que as coisas chegaram e nesse sentido, acho que precisamos de um estado forte, mas sobre tudo um estado que invista em formação e educação para poder levar a cabo uma verdadeira mudança de mentalidades. Acredito e luto diariamente, para que isso seja possível. E faço-o, dentro dos propósitos da democracia. Contudo quem me conhece, e lida comigo, mais de perto, sabe, que nunca entrei, não entro e não entrarei em lógicas aparelhisticas.

4:18 da tarde  

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