12 fevereiro, 2007

Terramoto Democrático

Este post irá ser uma simbiose de vários temas e post's recentes que tenho vindo a publicar com um misto de actualidade. Começando logo pelo título, uma ressalva, para o sismo que ocorreu hoje em Portugal. O maior dos ultimos 30 anos, felizmente, sem gravidade. Mas. ontem à noite existiu um terramoto democráctico, que, quanto a mim, foi a consequência, da não assimilação do post " Aborto-o post final " da concepcção vernácula do post " Sr.Primeiro Ministro Não faça Birrinha", da formulação correcta da minha teoria da abstenção e até do post " Comprovou-se". Mais, considero mesmo que sustenculariza a argumentação baseada no receio exposto no post "A Ditadura pode voltar?".

Ontem foi o dia do referendo sobre o aborto. Poderia iniciar a dissertação, sobre vários pontos, que até considero válidos e constitutivos de alguma curiosidade. Por exemplo, o facto do Não ter tido mais 200 mil votos ontem que em 1998. Num ponto mais subjectivo, lembrar que a pseudo-vitória do Sim esgotou as bandeiras do Bloco de Esquerda, que quanto a mim, começará daqui a 6 a 8 meses numa descida vertiginosa para o desaparecimento. Mas não, pretendo apenas constactar dois factos, que considero serem relevantes:

  1. Começo-vos por apresentar uma definição de Constituição ( Podem lê-la na wikipedia): "Constituição é o conjunto de normas (regras e princípios) supremos do ordenamento juridico de um país. A Constituição limita o poder, organiza o Estado e prevê direitos e garantias fundamentais.
    Devido a sua grande importância, situa-se no topo da pirâmide normativa, recebe nomes como Lei Fundamental, Lei Suprema, Lei das Leis, Lei Maior, Carta Magna." Trocando por "miúdos", a Constituição da Républica é a lei ultima do ordenamento juridico, pelo que se sobrepõe a qualquer lei. Achei opurtuno este esclarecimento antes de vos apresentar o que se encontra estatuído, no número 11, do artigo 115ª da nossa Constituição " O referendo só tem efeito vinculativo quando o número de votantes for superior a metade dos eleitores inscritos no Recenseamento". Ora votaram 43,61% dos recenseados. Não é preciso ter um curso em direito para intrepretar isto. Mais, acho que qualquer criança de 10 anos consegue intrepretar isto. O referendo de ontem não tem caracter vinculativo, pelo que, como aconteceu em 1998, mantem-se a lei actual.
  2. Após, esclarecido o primeiro ponto, salientar um outro , que considero muito mais grave: Que os apoiantes do Sim, frenéticos, por terem tido, efectivamente mais 700 mil votos que o Não ( 7% da população portuguesa ) festejem com bandeiras e música eu ainda não percebo. Não percebo é que os responsáveis políticos, nomeadamente, o sr.Primeiro-Ministro, venha dizer, que o que está na Constituição não interessa nada, e que a lei avança na mesma. Fiquei incrédulo. É desvalorizar a Constituição. Minimizar a democracia e matar, definitivamente, a figura do referendo. Queria que reflectissem um pouco comigo, pondo de parte, preferências partidárias ou sentido de voto ou de opinião neste referendo. Temos um primeiro-ministro que diz que a Constituição nao interessa nada, que faz o que quer. Tem manifestações de 80 mil pessoas, e diz que isso nao altera nada o seu pensamento. Controla as estruturas de comunicação social, e existe, por cima de tudo isto, quase uma divinização do " premier do jogging". Convido-os a irem a qualquer livro de história ou de ciencia politica e a procurarem as características de um estado autoritário e ditatorial. Sinceramente, sinto que estamos a entrar num caminho repressivo. Abriu-se um precedente, a partir de agora, qualquer preceito da Constituição pode ser violado. Quais são as garantias que temos que o direito à integridade física, a liberdade de reunião, liberdade de imprensa e pensamento vão ser cumpridos? Reparem, que não referi o direito à vida. Esse parece que já pouco interessa.

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Mais uma vez ganhou a abstenção.

Muito sinceramente pergunto-me se o meu voto valeu de alguma coisa. Se dão realmente importância aos votos dos portugueses. Sendo que houve mais de 50% de abstenção, este referendo foi tão representativo como o de 1998, portanto a lei devia permanecer tal como ela está. E a questão permanece, nunca saberemos se os portugueses são ou não contra o aborto. No fundo e com estes resultados, o governo não obteve confirmação nenhuma. E mesmo assim o primeiro ministro diz que a lei vai alterar. Enfim, que papel temos representamos no meio disto tudo? A lei altera, mas para isso escusa de fingir que se importa com a nossa opinião. Que pseudo-democracia esta.

7:06 da tarde  
Blogger Ze do Telhado said...

Excelente post. Parece que falamos do mesmo. Isto só revela a gravidade da matéria em causa. De facto, como bem referiste, abrem-se as portas para o autoritarismo, patrocinado directamente pelos media, que aplaudem a troco de dinheiro, todo o desrespeito e o atropelo pelas liberdades dos portuguesas.
Fazer-se-á justiça um dia. Espero.

Cumprimentos

1:14 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Cito "...no número 11, do artigo 115ª da nossa Constituição " O referendo só tem efeito vinculativo quando o número de votantes for superior a metade dos eleitores inscritos no Recenseamento"."

O que significa um referendo com um resultado vinculativo?

O referendo vinculativo implica que o número de votantes seja “superior a metade dos eleitores inscritos no recenseamento” - e repito inscritos no recenseamento- conforme diz a Constituição desde 1997.
Um resultado não vinculativo é, por definição, e passe a redundância, não vinculativo. Não vincula. Ou seja, não obriga o legislador a respeitar o “Sim” mas também não o obriga, por maioria de razão, a respeitar o “Não”

A questão colocada não deixa de ter interesse. Porém, eu não a vejo com a relevancia que lhe quer atribuir. É obvio que, do ponto de vista legal, um referendo com uma participação inferior a 50%, não é vinculativo; o governo poderá, ou não, legislar de acordo com a resposta que foi dada. Mas, essa resposta, muito especialmente no caso concreto, em que houve uma participação muito próxima dos tais 50%, é sempre vinculativa sob o ponto de vista político. O governo, ainda que não quisesse (o que não é o caso), estaria politicamente obrigado a legislar de acordo com o sentido de voto. O que eu quero dizer é que nenhum governo se atreveria a ir contra a vontade popular após os resultados do dia 11 (embora fosse possível, essa hipótese é apenas teórica). E tanto assim é, que já prometeu para breve a regulamentação…

Por outro lado entendo que algum limite há-de haver (e os 50% não me parecem mal). Isto porque (e também teoricamente), poderiamos vir a ter um referendo (que só existe quando a questão tem um interesse relevante para o país), vinculasse um governo sobre determinado assunto, ainda que só tivesse havido uma única resposta-um único voto- o que neste caso seria absurdo.

Em democracia liberal não votar tem de ser relevante. Quem não foi votar, de certa maneira votou para que o referendo não fosse vinculativo. Precisamente porque a abstenção é um voto estrategicamente útil..

Ainda de uma outra perspectiva, o poder/dever do voto é, quanto a mim, fundamental num sistema democrático (não podemos esquecer do tempo em que as eleições não eram livres), e devemos exercê-lo. Isto por duas ordens de razão:

1º Não podemos deixar que os outros decidam por nós (principalmente se não lhes conferimos legitimidade “intelectual” para o fazer);

2º Se nos queremos insurgir contra o que está, temos o dever de dizer como queriamos.

Ora o que se passa é que, quando alguém (como eu) tem o desplante de afirmar que o sistema não é perfeito e pode e deve ser melhorado, no mínimo é confrontado com acusações de que se trata de um “ataque à democracia”, ou a repetição “ad nauseum” da frase batida do “não sendo perfeito, blá, blá, blá….”

2:17 da tarde  

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