05 fevereiro, 2007

A ditadura pode voltar?

A esta questão tentarei responder, fazendo uma análise a três pressupostos, olhando para a perspectiva historico-constitucional, historico-social e política.

Começo então com a perspectiva historico-constitucional portuguesa, estabelecendo um quadro geral sobre as evoluções e reacções das constituições portuguesas. Ainda antes de entrarmos no período constitucional luso, estabelecer que antes da constituição de 1822 ( a primeira das constituições portuguesas, Portugal encontrava-se sobre a egide de um regime absolutista. Como reacção a este regime, a Constituição de 1822, uma constituição de cariz, extremamente, liberal. Pouco tempo depois, vai vigorar a carta constitucional de 1826, que vem reforçar o poder do rei, sendo menos liberal que a constituição de 1822, que era exageradamente liberal. A Carta Constitucional vai cessar vigência dando lugar a Constituição pactuada de 1838, mas vai voltar a vigorar até a constituição republicana de 1911, que como o nome indica, vem instaurar a Republica. Mas vem modificar muito mais que isso. Vem instaurar o laicismo ( separação do estado e da igreja) e um conjunto de outras evoluções relativamente ao período monarquico. Antes de continuarmos, penso que é util fazermos um ponto da situação. Sintetizando numa interligação constitucional temos : Periodo Absolutista-Período Liberal-Período Conservador-Período Liberal. Existe, um puzzle lógico, quanto a mim bem vísivel. Mas continuemos. Sucede a Constituição Republicana de 1911, a constituição conservadora-autoritária de 1933, constituição adjacente ao Estado Novo. A esta constituição como sabemos, reage a constituição de 1976, constituição actual, que visa um regime democrático. Existe quanto a mim uma sucessão lógica, pelo que, é admissivel dizer, que o puzzle, se continuar, poderia dar lugar a uma constituição autoritaria e conservadora, típica de regimes absolutistas, conservadores e/ou ditadoriais.

Agora, uma análise à perspectiva historico-social. Bom, porque existem então regimes ditatoriais? Também por uma questão social, sociologica. Existe uma necessidade de resposta, de centralização, de "uma mão de ferro" quando existe um abuso de liberdades, quanto se faz cortes abruptos com a tradição, quando existem comportamentos geradores de instabilidade. Foi assim, quando a Carta Constitucional de 1826 teve que reagir a uma Constituição ( 1822) ultra liberal, que humilhou a figura mais tradicional da nação, o Rei. Foi assim que a Constituição de 1933 teve que reagir à practica constitucional republicana de 1911, marcada por uma instabilidade política sem precedentes, e por escandalos humilhantes, como o envio de tropas sem o minimo de preparação para a I Guerra Mundial. Nesta perspectiva, como tenho vindo a dizer, presencio no regime actual, verdadeiros abusos de liberdade, situações onde a liberdade de uns é atentatória a liberdade de outros, como são exemplos o fumo em locais publicos fechados ou a interrupcção voluntária da gravidez. Presencio um corte abrupto com as tradições e os valores. E do ponto de vista político, têm começado a aparecer sinais de instabilidade, por exemplo, é o terceiro governo num espaço de 5 anos. Também sobre esta perspectiva, a resposta a pergunta feita no título do post, poderá ser afirmativa

Por ultimo a análise política e politico-partidária, que deve igualmente ser feita. Existe hoje um conjunto de matérias, de ideias que não sao contempladas por nenhum partido em Portugal. O Bloco e o PCP ocupam-se de matérias, como a legalização do aborto, a questão do casamento entre pessoas do mesmo sexo, a despenalização das drogas leves e da prostituição. O PS e o PSD encontram-se, no centro ideologico em Portugal. Contemplam um grande numero de matérias nucleares, mas não sobre ideias extremas, problemas fora do denonimando Centro ideologico. O CDS/PP, partido mais a direita, veio nos ultimos anos, através do seu, carismático, líder tem vindo a deslocar-se mais para o centro, para captar eleitorado e poder ser um partido de governo, com imensas preocupações de nível social. Ora existe um vazio em matérias, como os problemas que advêm da emigração, em especial da emigração ilegal, do conhecimento profundo de matérias ligadas a história, a tradição aos simbolos nacionais, a uma polícia forte. Estas questões, estão a ser aproveitadas ideologicamente pelos partidos mais a direita, de extrema-direita, que captam cada vez mais atenção da comunicação social e do próprio eleitorado. A possibilidade de partidos como o PNR, por exemplo, crescerem substancialmente, é cada vez menos remota. Apenas lembrar, que em França, por exemplo, Le Pen líder de extrema-direita conseguiu resultados absolutamente estrondosos na casa dos 18%. Também por aqui, poderemos estar a abrir espaço, para uma resposta afirmativa a pergunta que lançei.

Como vimos, o regresso a um regime ditatorial não é algo impossível de acontecer, bem pelo contrário. Urge, uma mudança de mentalidades, um respeito pelos valores tradicionais, uma practica moderada das nossas liberdades, não permitindo que esta interfira na liberdade dos outros, uma educação e formação tendo em vista o desenvolvimento comportamental dos nossos jovens, um combate sério aos excessos cometidos. Se soubermos usar a nossa liberdade, então, conseguiremos preserva-la muito mais tempo.

10 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Provavelmente não tem muito haver com o que disses-te, mas já ouvi dizer várias vezes que tudo na vida é um ciclo... E acho que até concordo!..
Por isso irem e virem ditadores "actualizados" à sociedade, ou irem e virem guerras, tb actualizadas, ou irem e virem revoluções faz parte deste grande ciclo!
Claro que não comparado a todo um post mt pensado, elaborado e conseguido...
Tudo o que vem, vai e tudo o que vai, vem... ! E è assim a vida... =)
Beijinho

10:55 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Mais uma x n concordo ktg,pelo k tenho lido temos de facto ideais difernts...uma das koisas k reti do teu texto foi a k a mariana expos...d k tdo e um ciclo.n konkoro mt km exa ideia,pra mim nem tdo e um ciclo pois ixo provokaria um retrocesso evolutivo...creio k tdo tende a progrdir,a seguir em frente e nao a progredir,regredir,progrdr,regrdir...km um ciclo vicioso....e klaro k a vinda d ditadura n e algo k esteja tao longe km s pode pensr contudo n m parece k seja pa breve..e klaro k o progrm d RTP pode ajudarte a fundamentr akilo k dixeste,pois a ultima infrmçao k tive e k Salazar vai a frente nas votaxoes..ixo ker dzer alguma ks klaro...lol!d klkr forma,o meu komentario n tm a finalidd d refutar a tua opiniao,vim mais uma x darte os meus parabens...ta mais k provado k tens ideias mt articuladas,textos bm conseguidos,uma boa xpressao e tas sp actualizd..mt bm!os meus votos de maior sucesso e kontinua partilhndo konnosco ;)bjnhos***

2:22 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

ps-assind magui..lol*

2:39 da tarde  
Blogger Tiago Mendonça said...

Cara Mariana,

Reti um ponto, que considero, ser importante para caracterizar o que eu disse. O regresso de um regime autoritário/ditactorial não teria que ser necessariamente igual ao regime do Estado Novo, podem existir outras variantes de ditaduras. Mais, mesmo em, ditaduras cuja vigência se deu mais ou menos no mesmo espaço temporal, existiram diferenças, sendo Franco muito diferente de Hitler, Salazar diferente de Estaline, Mao Tsé-tung diferente de Mussolini.

Cara Magui,

Fez bem em assinar o seu comentário, relembro, a utilidade dos comentários virem assinados. Para além de mais estimulante, na medida em que o comentário virtual terá necessariamente correspondência a uma práctica real, provavelmente do meu conhecimento, confere ao que escreve uma maior validade. De qualquer forma, respeito a opcção de não assinatura dos comentários, e não deixo de aceita-los, como outros colegas bloguistas o fazem.
Agradeco-lhe, em primeiro lugar, as suas palavras de incentivo. Mostra uma maturidade impressionante, uma vez que discordando do conteúdo reconhece a validade dos argumentos e a forma como estão expostos. Indo ao encontro do que disse, sobre o " ciclo vicioso " e sobre normalmente existir sempre uma progressão A verdade é que não é bem assim, até porque o conceito de progredir e vasto e ambiguo. De uma constituição que apagou o poder do rei, fomos para uma carta constitucional que lhe conferiu poderes extraordinarios, da constituição republicana de 1911 partimos para a constituição autoritária de 1933. E também a nivel internacional assim foi. Em frança existiram 14 constituições, com mudanças bruscas de sistemas de governo e até de regime, por exemplo. Quanto a votação, no programa da RTP, penso que o facto do Prof.Oliveira Salazar estar nos 10 primeiros, já mostra o sentimento que se começa a generalizar na sociedade portuguesa,quanto a mim, infelizmente. Penso que o sistema democrático, dotado de força e vontade política, sem medo para impor limites e lembrar tradições, é o ideal para a vivência em sociedade.

3:06 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Gostei do discurso, e de alguma da conversa subjacente...
Concordo, tempos de liberdade antecedem épocas mais ditatoriais. Ou vice-versa.
Reconheço o aumento do poder apelativo dos partidos de extrema-direita, decorrente, na minha opinião, das dificuldades financeiras e sociais dos nossos dias. (Poderia dizer morais, mas não digo…)
Sendo que muitos encontram nesses partidos a resposta ao esmorecer de tradições que actualmente se verifica.
Actualmente vivemos momentos de instabilidade e mudança, daí resultante o enfraquecimento das normas sociais. O que na minha opinião, e por si só, não é mau, nem bom… mas analisável.
Sendo essa é a razão do meu comentário.
Vejo os indícios de uma futura "mão de ferro". Todavia num aspecto tenho de discordar contigo, a tua resolução pareceu-me desajustada.
Objectivamente, posso dizer que este texto além de uma reflexão foi também uma crítica.
“Presencio um corte abrupto com as tradições e os valores.”
“Urge, uma mudança de mentalidades, um respeito pelos valores tradicionais”
O que denota como uma das máximas, a valorização dos valores tradicionais.
O que pode ser incorrecto.
Concordo com o respeito da liberdade alheia, como exijo o respeito pela minha liberdade. Todavia não defendo a simples manutenção de tradições.
Antigamente os divórcios eram inaceitáveis, pecaminosos.
Conclusão, não devemos valorizar as tradições apenas por deterem essa designação. Os valores também evoluem, tal como edificamos a nossa cultura, modificamo-la, e moldamo-la ás nossas mãos.
Devemos antes pensar bastante, investindo na “educação e formação” (tinha que citar isto!) sendo que os nossos ideais devem provir, não apenas da nossa herança cultural, mas do nosso discernimento cuidado.
Eu sei que divaguei do tema principal, mas achei importante focar este ponto, pois em matéria de valores percebi que divergimos bastante, sendo que considero algum dos teus conceitos como demasiado fechados, o que pode originar atitudes discriminatórias, preconceituosas…talvez? Entramos em conflito. O que consideramos aceitável a outro ver pode ser abusivo…neste caso, devo respeitar-me ou respeitar-te?
Será possível, num raciocínio pormenorizado, reunir uma visão tão tradicional a outra tão liberalista? Não sei, mas defendo que, atendendo à nossa e alheia liberdade, sejamos nós, e deixemos os outros ser quem são.
Tudo isto com muita deliberação, pois esta é a condição necessária ao respeito. Sendo que mesmo não te entendendo aceito.
E assim apelo à educação pelo Pensamento.
Jesuss

12:12 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Sr.Tiago considero que esta sua observação sobre a possibilidade de um "...regresso de um regime autoritário/ditactorial..." a Portugal é um pouco dificil.

Penso que a sociedade portuguesa tem perfeita consciência dos seus direitos e liberdades conquistados ao longo do tempo e que jamais aceitaria tal mudança a esse ponto sem que houvesse qualquer tipo de contestação mais abrupta.

Além disso a actual Constitição Portuguesa estabelece limites tanto ás liberdades da sociedade,poder politico(forma de governo, sistema de governo).

O regime democrático tem diversas fases de crescimento até à maturidade(maturidade democrática implica maior cidadania, maior consciência dos deveres e direitos de cada um, maior exigência, maior controle democrático, mas sem fanatismos e extremismos). Em Portugal estamos a ter alguma dificuldade em encontrar essa maturidade, ao fim de vinte e sete anos de caminhada em Democracia e não se passa impunemente de um regime ditatorial de quase cinquenta anos para um regime democrático fluente, funcionante e satisfatório para depois voltar a um mesmo ou aspirante regime ditatorial.

4:12 da tarde  
Blogger Tiago Mendonça said...

Cara JesusS,

Como referiu afastou-se um pouco da temática do post, que verificava uma análise, quase estatística, de factos. A Análise da perspectiva historico-constitucional e historico-social fundamentam a minha argumentação. A questão política aparece para congregar as lacunas existentes, provenientes das situações retractadas na análise dessas mesmas perspectivas. De todo o seu comentário, penso que não estarei muito errado, se, afirmar, que o ponto fulcral da sua dissertação se prende com a tradição e com a liberdade de cada um para a respeitar. Deu o exemplo do divorcio, afirmando que era visto como algo " pecaminoso ". Não o acho pecaminoso. Mas não posso concordar com taxas de 200% de divorcio, com mais divorcio que casamento. Mas quando me refiro a tradições, refiro-me, a um respeito pelo passado historico do nosso pais, pelas nossas instituições e simbolos. Mais, refiro-me a uma descaracterização da sociedade. Refiro-me a que hoje é normal sair-se pa discotecas com 11 anos, fumar com 12, beber-se alcool com 13, perder a virginidade aos 14, experimentar drogas leves aos 15, experimentar drogas duras aos 16, andar a 190km/h aos 18. Isto sou contra, e acho que é perigoso deixarmos avançar. E aqui acho que temos que formar e educar, para alterar essa mentalidade, do facilitismo, da liberdade radical, da liberdade não ponderada. Acho que a nossa liberdade não pode ser máxima, pelo menos é condicionada, se intreferirmos com a liberdade de outros e com a vida em sociedade de forma harmoniosa. Acho que se deve ligar o comportamento à adequação do mesmo, isto é, devemos saber ter atitudes que se compadecam com a vivencia em sociedade e com um respeito pelos outros. Dou-lhe um exemplo : Nas faculdades, é normal, os professores darem aulas de fato e gravada, impondo um formalismo, um respeito pela instituição, um sinal de respeito pela própria dignidade da instituição. Não acho que fosse adequado, por exemplo, eu ir de t-shirt, calçoes e chinelos para a sala de aula. Tem de haver uma adequação comportamental. Penso que elucidei um pouco mais, sobre os temas que levantou, que foram, um pouco dissonantes com o post original, mas não menos importantes, para a nossa reflexão colectiva e procura de argumentos que sirvam de sustentaculo para as nossas teorias.

12:37 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Eu acho que vai aqui uma eterna confusão de argumentos não acha sr.Tiago.

Primeiro tenha um pouco de atenção na sua ultima intervenção a este post pelo que me parece está fora de sitio.

E já agora vai assinado. Assim como não assinei nos outros aqui vai este assinado.

Se quiser a morada e o telefone para comprovar se sou uma pessoa é só pedir.

12:53 da manhã  
Blogger Tiago Mendonça said...

Cara Maria Costa,

Concordo quando diz que a minha resposta ao comentário, está em dissonância ao post. Contudo, eu fiz uma ressalva no inicio do, referido comentário, assinalando que a leitora JesusS, se tinha afastado da temática central do post, mas que iria elucida-la. Quanto a assinar o comentário, considero apenas que isso lhe atribui maior validade moral. Dou-lhe um exemplo: Os unicos dois comentários insultuosos que tive, foram sempre de anónimos. Continuo sem conhece-la, mas isso não é importante. Mostra que o blogue começa a expandir-se além do circulo de pessoas mais próximas. Respondi-lhe em pormenor, a questão que colocou no post " Comprovou-se". Obrigado pelo seu comentário, e por agora, ter por fim, identificado a sua origem.

4:06 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Sem dúvida. Que venha rápido e em força, para bem de todos nós. Pela Naçao, pela Patria. Ate ao fim.

2:24 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home