03 janeiro, 2007

" Erro Histórico e Erro Político "

Saddam Hussein, foi executado, nos últimos dias do ano transacto. Resolvi deixar passar uns dias sobre o acontecimento, para que pudesse em conjunto com o leitor olhar para este acontecimento, de forma mais lucida, objectiva e desprendida de alguma emoção, positiva ou negativa do momento. Mais, prevendo já, algumas situações subsequentes à execução ( como a publicação do video da mesma, por exemplo ) optei por guardar a minha análise para depois, para que pudesse abarcar na minha dissertação esses lamentáveis episódios, que, tal como previa, vieram, indesejavelmente, a suceder.

A questão da aplicação da pena capital, foi por mim, já abordada em detalhe, num outro post. Expressei a minha opinião, no sentido, de que, em nenhum caso se justifica a aplicação da pena de morte. Não considero que se possa falar em direitos humanos, que se possa apelidar um estado, de estado de direito quando presenciamos este tipo de sentenças. Definição que vai ao encontro da posição de Portugal, por exemplo, que foi pioneiro na abolição deste tipo de pena. Ideia, que vai, igualmente, ao encontro da posição da Comissão Europeia, que obstaculariza a entrada da Turquia na União Europeia, por questões, eminentemente de desrespeito pelos direitos humanos, sendo evocada, com destaque, a questão de a Turquia ainda prever a pena de morte como sentença no seu edificio politico-juridico.

Como comecei por referir, previ, logo no dia da execução de Saddam que muitas situações subsquentes e ,perfeitamente, nefastas viessem a suceder. Assim foi. A começar pela divulgação do video da execução, que ao que sabe, foi filmada e publicada por um oficial de alta patente. Ainda a registar, os insultos na hora da morte do ex-ditador, situação que tem precedentes, quem não se lembra do escandalo das humilhações nas cadeias iraquianas, protagonizadas por soldados norte-americanos e britanicos? Por último, a lamentar ainda, que a filha de Hussein tenha sido, alegadamente, impedida de se despedir do Pai, antes da sua morte. Esta amálgama de acontecimentos, em tão poucos dias, permitem-me desde já, considerar, que pelo menos, a aplicação da pena, foi completamente desajustada, humilhante e desprovida de um minimo de dignidade que qualquer ser humano merece.

Sobre a execução, disse Silvio Bersluconi, ex-primeiro ministro da Itália: " Considero que foi um erro histórico e um erro político". Eu, perfilho totalmente desta afirmação, e passarei a expor porque considero que realmente esta condenação tem efeitos nefastos no contexto histórico e no contexto político ( Rementendo as considerações sociais, juridicas, morais e culturais para o outro post acerca desta matéria, que protagonizei há algumas semanas ) .

No tocante à vertente histórica, o exemplo está bem à vista. Se Saddam tivesse sido condenado, a uma pena de prisão, perpétua, por exemplo, este post seria, muito provavelmente, de " comemoração" por ter sido feita justiça a um homem que matou e mandou matar milhares de pessoas. A este blogue se juntariam todos os outros que abordaram este assunto ( e não foram poucos ), jornais, noticiarios, e até manuais e obras , que por certo, serão escritos baseados nesta temática. Em suma, o que ficava para história era um apontamento de justiça e de consequente felicidade e aprovação desse apontamento por parte de toda uma comunidade. Assim não foi. O que fica para história, e o que é descrito por todos os blogues, jornais ou livros é uma violação dos direitos humanos, uma injustiça, algo lamentável e negro no desenrolar da história mundial. Em suma, um erro histórico na medida, em que as atrocidades que Saddam cometeu são absolutamente desvirtuadas, tendo um peso muito menor que o devido na História Mundial. Por outro lado, o que fica para história é uma condenação monstruosa e quase que percepcionamos uma inversão de papeis, " os maus ficam para história como bons, e os bons como maus " . Muito perigoso do ponto de vista histórico, esta actuação.

Já do ponto de vista político, esta condenação, tem quanto a mim duas consequências imediatas: Por um lado, assistimos a um enfraquecimento da posição internacional dos Estados Unidos e da Inglaterra ( que já estava muito débil) . A actuação da coligação no Iraque, tem aqui a cereja em cima do bolo envenenado, que foi esta guerra, que há muito, já foi definida, como injusta e ilegitima, tendo merecido a reprovação da esmagadora maioria da comunidade internacional. Neste sentido, as diferenças de opinião no Ocidente, podem ser agudizadas, podendo levar a um certo " desconforto " ( um verdadeiro eufemismo para caracterizar a situação criada ) dentro da comunidade ocidental. Por outro lado, temos como segunda e mais grave consequência, a possibilidade da existência de atentados, protagonizados, pelas facções islâmicas mais extremistas. O destaque desta morte tem uma carga, eminentemente, negativa, e poderá " acordar " as células terroristas. Mais um erro evitável, mesmo tendo sido o tribunal iraquiano a condenar Saddam, não podemos ser ingenuos, e não lembrar a responsabilidade e poder que americanos e ingleses detêm neste aspecto.

Remeto para o leitor, como sempre, uma reflexão pessoal, sobre esta temática, e a formulação de uma tese sobre este acontecimento, esperando que a intrepretação que aqui dei aos factos presentes, seja útil para esse exercício que recomendo, ao caro leitor.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Concordo com o que disses-te, da maneira como levaram esta execução conseguiram fazer com que um homem que muitas vezes foi chamado de monstro em vez disso transmite-se pena às pessoas! De proposito não teria corrido melhor...
Beijinho *

7:42 da tarde  

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