26 dezembro, 2006

O negro de Lisboa

Lisboa uma cidade maravilhosa, com paisagens fantásticas, monumentos majestosos e sítios para descobrir belíssimos, Lisboa que compreende o cenário fresco e romântico de Sintra, a tradição e a história da Baixa Pombalina, o pulmão que é Monsanto, uma zona oriental reformulada com uma modernidade digna de um país muito desenvolvido é, infelizmente, a mesma Lisboa que quando o sol " adormece " entra num sono profundo e esquece-se de todas estas potencialidades que têm dando lugar a uma promiscuidade, violência e prostituição directa ou indirecta, configurada através de muitos espaços nocturnos, que hoje, prestam um serviço ao mal, ao pecado, à quebra de valores ( Ainda que não possamos generalizar ) .

Tenho falado (aproveitando esta quadra, onde temos mais tempo para estarmos junto dos nossos e dialogar sobre todos os tipos de assuntos) sobre esta temática, e explicado o meu ponto de vista acerca da vergonha que cada vez mais é a noite Lisboeta, visão, que final e felizmente começa a ser fundamentada através de documentários e reportagens que versam sobre esta matéria.

Em primeiro lugar, e por uma questão de justiça, não quero de modo algum colocar todas as discotecas no mesmo saco, nem tão pouco o tipo de festa, isto é, existem discotecas onde tudo se passa normalmente e por exemplo se destinam, maioritariamente, a festas de gala, onde o público tende a ser mais seleccionado, o tipo de vestuário é escolhido, e existe uma tabelação de preços indiferenciada, o que conduz a uma menor promiscuidade e a um evitar de uma prostituição indirecta, conceitos que tentarei explicar mais adiante, sendo que por ora, interessa dizer que uma discoteca que exiga os mesmos 10 euros a uma rapariga e a um rapaz, oferecendo o mesmo número de bebidas, não entrará no que eu defino como uma negociata que toca efectivamente as raias da prostituição, ainda que indirecta, permitida e sem convicção de obrigatoriedade.

Nesta fase introdutória, interessa, por último, explicar, que o post não pretende denegrir o nome de qualquer discoteca, deixando toda a margem para o leitor descobrir por si próprio e tomar as suas opcções relacionadas com os sítios que deve ou não deve frequentar. O objecto deste post é apenas explicar alguns pontos de uma teoria pessoal acerca do mundo da noite Lisboeta, procurando apenas colocar o leitor a pensar sobre o assunto, remetendo para a reflexão pessoal a aceitação ou refutação desta tese e posterior opcção das atitudes a serem tomadas.

Entrando, então, de forma específica na teoria que procurarei expor, importa traçar um quadro real do que se passa: Objectivamente e perfeitamente assumido por todos, o objectivo das discotecas passa hoje por obter lucro, exclusivamente lucro, não havendo qualquer preocupação pedagógica. Bom, isto já nós sabemos e até poderá, em limite, ser admitido. O que já não admito é a forma utilizada para a obtenção do lucro : As discotecas baixam os preços das entradas para raparigas, para que estas frequentem determinado local, funcionando estas como isco para os homens irem a esse mesmo local, pagando preços, substancialmente mais caros, quase sempre o dobro da entrada das pessoas do sexo feminino. Ora limitar a condição da mulher a mero isco, reduzindo-lhe por isso o preço da entrada, não é no mínimo promiscuo? Não será isto, ao fim ao cabo, dar-se dinheiro ( No sentido de que se pede menos ) para que estas funcionem como um isco? Bom, mas se ainda restam duvidas de que o "mercado" da noite se assemelha cada vez mais a uma prostituição consentida e voluntária continuemos na dissertação.

Também é conhecido por quem frequenta ou tem conhecimentos de frequentadores destes espaços, que o dinheiro pedido varia ainda consoante o vestuário e o próprio aspecto físico: Hoje todos sabemos que uma mulher que se vista com um decote enorme e uma mini-saia, muito mini, entra muitas vezes de borla no estabelecimento, por vezes até lhe são dadas senhas de bebida, ora já estão a perceber, uma rapariga nestes trajes, bem bebida ( sendo que muitas vezes a ingestão de alcool é feita voluntariamente para no dia seguinte se poderem desculpar das duas ou três relações ocasionais, vulgo, "curtes" da noite anterior") é um claro isco para os rapazes " tentarem a sua sorte ", sendo pedido a estes, normalmente de uma faixa etária superior a das raparigas uma quantidade muito mais avolumada de dinheiro para entrarem no estabelecimento. Ora já vi também raparigas ( Sim porque ainda há muito boa juventude, e muitas boas raparigas e rapazes, creio mesmo que a maioria, ainda que, infelizmente cada vez "menos maior") que indo vestidas de forma absolutamente normal, com umas jeans e uma t-shirt larga por exemplo, que não se produzam em demasia e não revelem descaradamente os seus atributos físicos, ou não tenham uma beleza exterior tão grande sejam obrigadas a pagar mais, ou a não entrarem de borla, isto, porque não são um isco tão apetecível ou como não entrarão, em princípio, em relações ocasionais, não difundem o " nome " da Discoteca, isto porque hoje, infelizmente, os homens vão tanto mais a uma discoteca quando mais " abordelada" ela seja, todos sabemos de pelo menos duas discotecas que enxem todas as noites e sabemos o que se passa lá dentro ( Não acho que deva citar os nomes das mesmas, pois como referi inicalmente não quero difamar o nome de qualquer discoteca, até porque desejo, remeter o leitor para uma apreciação pessoal, comprovada, porventura, pela experiência pessoal ) . Ora, sintetizando o que se passa aqui? Temos raparigas que são pagas ( Mais uma vez no sentido de pagarem muito menos ou não pagarem nada) por mostrarem os seus atributos e se envolverem com homens que pagam por este serviço prestado pela discoteca. Mais específico ainda, ainda que possa ser mais frio e caústico, mas para evitar o desprezo pela realidade nua e crua, o que presenciamos não é mais que o pagamento a uma rapariga para que ela mostre os seus atributos a um rapaz que paga mais para os ver. Isto creio que tem um nome.

É absolutamente arrepiante esta destinção de preço entre os seres humanos, pegando, por exemplo, na teoria Kantiana, que julgo que ser bem aceite por todos de que " o homem tem dignidade e a coisa tem um preço " creio que temos aqui uma ordem de valores invertida, pelo menos no sentido, de que aqui o homem tem um preço e esse preço varia conforme ideais físicos ou mais ou menos peças de roupa.

Mais duas situações, que se afastando um pouco da teoria, que expûs sobre a ligação dos conceitos de uma espécie de prostituição e da noite em Lisboa, me deixam absolutamente preocupado. As pessoas saiem à noite, cada vez mais cedo e bebem cada vez mais. Estas duas realidades juntas são uma mistura, perfeitamente, explosiva que rebenta com qualquer escala de valores que uma juventude prospera intelectualmente possa almejar. Assim sendo, podemos assistir ao triste espectáculo , comprovado, numa reportagem já aqui referida numa outra ocasião, de termos jovens de 14,13,12, 11 anos até, completamente embriagados a terem comportamentos de risco, tudo isto, perante uma aparente serenidade por parte de quem pode inverter a situação, o governo num plano mais amplo, as famílias num domínio mais particular.

Por último, referir uma vez mais, que tenho a certeza que existe muito boa juventude, e que sei que essa juventude projectará Portugal e o encaminhará pelos bons desígnios, pelo que apelo a uma preocupação de todos a este nível e para que todos pensem sobre isto. É urgente mudar o estado de coisas, sob pena, de a " moeda fraca " expulsar a "moeda boa", para utilizar uma expressão bem conhecida aqui, perigosamente invertida.

6 Comments:

Anonymous Anónimo said...

a minha opiniao sobre este tema da "noite lisboeta", sobre as discotecas e o que se passa dentro delas nao é uma opiniao bem formada. Ja frequentei discotecas quando era mais nova, apesar nunca gostar muito. Olhava á minha volta e via miudas da minha idade ( 14/15) completamente bebedas e agarradas a rapazes muito mais velhos e pensava pra mim mesma que aquele nao era o meu mundo. Hoje em dia vou muitas vezes ao bairro alto ou a um barzinho com musica ao vivo onde ai sim, se pode conviver, conversar, aprender, ensinar. Nao vejo onde isso possa acontecer dentro de uma discoteca.
Gostei do que escreveste. Um beijo

5:04 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Gostei da maneira e da sequência como dirigiste este post... Sim, é verdade que Lisboa tem inúmeros locais lindíssimos por onde visitar e passear. Há espaços muito mas muito bons tanto para o convívio familiar como para o convívio entre amigos. Mas são já poucas aquelas pessoas que desfrutam destes locais e são mais aquelas que preferem passar as tardes em estabelecimentos comerciais e afins, o que é pena.

Quanto às discotecas... Podiam ser bons estabelecimentos nocturnos se fossem bem dirigidos, se existisse a tal selecção, se não houvesse uma distinção de preços de mulheres para homens ou mesmo deste para aquele, e se as pessoas as frequentassem com o simples objectivo de se divertirem e descomprimirem alguns stresses do dia-a-dia. Isto tudo varia muito de discoteca para discoteca e do ambiente que lá se encontra. Há discotecas que têm um ambiente horrível e que estão sempre cheias e, como dizes, todos nós temos conhecimento de pelo menos duas dessas discotecas. E eu até acho que sei porque é que essas discotecas estão sempre cheias. Também não é difícil de adivinhar. São discotecas ditas “da moda”, discotecas em que qualquer pessoal entra. E quando digo pessoal refiro-me às miúdas de 14/15/16 anos que 1º se acham muito graúdas , 2º vestem-se todas da mesma maneira e 3º acham que é “muito à frente” ter noitadas a beber uns quantos copos e a ter atitudes menos próprias. Enfim, pode-se dizer que é decadente isto, mas é a juventude de hoje. E é esta a juventude sem princípios que educará as gerações seguintes. Mas quanto a isto já me pronunciei num outro post.

“por parte de quem pode inverter a situação, o governo num plano mais amplo, as famílias num domínio mais particular.”

Fazes referência às famílias e muito bem. Porque é na família, mais que tudo, que uma pessoa desde pequena é educada e aprende a herdar princípios e valores. Apesar de muitos jovens seguirem um caminho que não é o mais correcto, acredito que tenham tido uma boa educação por parte dos pais. Mas infelizmente, nem tudo está sobre as mãos deles. Cada um decide e define, por si próprio, o tipo de pessoa que quer ser e que atitudes ter nesta sociedade.

Agora, concordo quando dizes que a maior preocupação das discotecas é obter lucro. De facto é. Certas discotecas pedem quantias exorbitantes para entrar e essas quantias variam consoante o aspecto físico e a roupa que levam, o que eu acho extremamente absurdo.

Sou da mesma opinião que a Cristina. É preferível os bares calmos onde há espaço próprio para o convívio, para conversar, partilhar ideias e deste modo passar uma noite mais produtiva, coisa que nas discotecas não acontece.

Já que estamos quase no final do ano... Muitos Parabéns pelo blog, pelos posts com muito bom conteúdo e sobretudo por levares as pessoas a reflectirem sobre determinados assuntos. Continua!

7:06 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Bem primeiro que tudo quero começar por te dar os parabéns, está muito bem escrito, bem organizado e muito claro!
Depois da parte dos elogios ;) vamos ao conteudo em si...
A tua opinião sobre isto eu conheço e um facto é que a questão da "prostituição" é uma ideia que nehuma dessas meninas alguma vez pensou muito provavélmente porque ainda nem idade têm para pensar nas coisas tão "a sério".
Enfim... toda a gente tem o direito e deve crescer por si própria, mas que é sem dúvida uma anormalidade o que muitos pais deixam ou nem sequer sonham que acontece por ai... sim, os pais porque as meninas que se metem nessas coisas ainda têm idade muitas vezes para poderem ver as coisas como elas são na realidade...! Mas espero que pelo menos os futuros pais que lerem isto ;) consigam ver as coisas um bocadinho mais além e as coisas possam realmente mudar!
Um beijinho *

11:07 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Vivam os morangos e a geraçao rebelde...LOL

12:13 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

o curioso disto tudo é que tu frequentas essas mesmas discotecas, agarras-te a essas mesmas raparigas e tentas curtir com tais raparigas que apresentam o tal decote e a tal mini-saia.

12:25 da manhã  
Blogger Tiago Mendonça said...

Cara Cristina,

Um obrigado pelos comentários assiduos e uteis que costuma fazer neste espaço. De facto, tambem tenho a percepcção, como abordei no post, da diferença etária existente nessas relações ocasionais. Contudo, penso que o ponto mais importante que focalizou foi mesmo que é impossivel aprender ou ensinar qualquer coisa dentro de uma discoteca. Concordo sem qualquer reserva com isto, e também concordo quando refere que existem outros sitios agradáveis, para se conversar e para se estar na noite, até na noite de Lisboa.

Cara Ana,

Mais uma vez um comentário elucidado, ponderado e incisivo. Um verdadeiro primor. Qualquer dia tira-me o lugar! Considero que abordou no seu comentário alguns dos pontos mais relevantes do post e ainda lançou outras temáticas, como a preferência pelas grandes superfícies comerciais em detrimento dos jardins, dos museus, etc. Obrigado pelos elogios, e pelos seus comentário sempre tão precisos e verdadeiramente prespicazes.

Cara Mariana,

Mais uma vez um obrigado pelos seus comentários regulares e sempre num tom elogioso, não deixando, porém de expressar a sua opinião de forma autónoma ao conteúdo do post. Penso que tocou num assunto muito importante, o facto de as "meninas" ainda não terem bem a noção no que estão a entrar. Leva-nos para duas ideias: Uma primeira de que a lei não está a ser cumprida, pois se assim fosse, teriamos discotecas so com maiores de 16 anos, e ai os niveis de maturidade e responsabilidade teriam de ser, tendencialmente, muito maiores. Por outro lado, que se exige uma intervenção estatal e um colocar em prática de todos os mecanismos juridico-politicos para porem termo a esta grave situação.

Caros anónimos,

Mais uma vez a nota, de que prefiro que assinem as vossas intervenções, por uma questão de frontalidade e para que possa levar em consideração as vossas opiniões. Não tenho optado por limitar os comentários a pessoas registadas para dar uma maior liberdade ao leitor, mas preferia que assinassem. Por outro lado, relembrar que talvez este seja dos poucos Blogues em Portugal onde o autor não apaga um unico post, ou seja, mesmo nos comentários prejurativos, caluniosos e menos próprios opto por deixar que estes sejam publicados, para que este seja um espaço de discussão elevada mas com uma maior diversidade de opiniões e cabendo aqui opiniões extremamente opostas. Lamento contudo que os dois comentários prejurativos que em 4 meses este blogue teve, tenha provido de leitores anónimos pelo que apelo a que o nível elevado porque se tem pautado estes posts e comentários seja mantido e não desvirtuado, especialmente por quem não se identifica. Criticar sim, caluniar não. De qualquer forma respeito os comentários e portanto passo, após esta nota, que não se repetirá, por certo, à resposta dos dois comentários. O primeiro intrepretei-o como uma ironia, e de facto a problemática dos Morangos com Acuçar e outras séries televisivas que considero estupidificarem a nossa juventude, é uma problemática séria, que já abordei aqui num dos primeiros posts deste blogue. Também o que vemos hoje na televisão é manifestamente prejudicial ao desenvolvimento cultura e a projecção de valores, que creio, todos ambicionarmos para a nossa juventude. Passando agora para o último dos comentários anónimos, a frequência pessoal das " tais " discotecas é um ponto que também abordei ao longo do post: Este post quer que o leitor reflicta, tome as suas conclusões, mediante uma possível experimentação pessoal, pelo que aconselho, a titulo de observação a essa visita. Contudo as duas discotecas que não referi o nome do post, mas que calculo que todos tenham percebido, nunca as frequentei, não obstante de ter feito alguma observação e uma sondagem a pessoas que optam por frequentar esses sítios. De todo o modo, com 15 anos saía com mais frequência e frequentei algumas discotecas, o que agora não faço, quer seja por falta de tempo, mas essencialmente por um obvio amadurecimento pessoal que me fez optar ( como a outros comentadores que aqui partilharam a mesma opinião) por outros estabelecimentos.

P.S-Obrigado a todos pelos vossos comentários, e pela adesão a este post, talvez o primeiro que revela uma verdadeira teoria pessoal, adesão que foi ilustrada pela ultrapassagem dos 2000 visitantes, e pelo pico de visitantes que o dia do blogue e o dia seguinte obtiveram.

12:52 da tarde  

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