16 outubro, 2006

Pecado

Ontem à noite, numa conversa amena, debatia a definição de pecado. Diziam-me que, pecado é tudo aquilo que é feito de forma errada, ainda que de forma involuntária. Logo de seguida, defenderem que numa discussão no caso de se magoar uma pessoa, mas tendo razão na discussão, já não é pecado. Ora isto, quanto a mim, é um pouco incoerente, pelo que tentarei sistematizar a minha definição de pecar.

Em primeiro lugar, salientar que quanto a mim pecar e fazer algo propositadamente mau, fazer algo com o objectivo de enganar, iludir, maltratar, injuriar, difamar, etc, alguém. Alguma acção cuja conotação seja eminentemente má, exista portanto uma má vontade independente do conteúdo e do resultado da acção praticada. Nesta perspectiva, considero que eu, quando questionado sobre determinada matéria, respondo com base em dados que tenho ainda que sejam dados falsos, e dessa forma " engane " a pessoa, não estou a pecar, pecar estaria se enganasse a pessoa propositadamente, tendo em minha posse os dados correctos e cedesse os errados com o único fim de enganar o meu semelhante.

Por outro lado, relevar que considero que um dos principais objectivos da vida humana passa pela superação constante, isto é , eu devo tentar-me superar e ser melhor pessoa todos os dias. Esta maneira de estar na vida conduzirá a que me transforme numa melhor pessoa todos os dias e dessa forma erre menos, pecando por isso menos, caminhando com isto, para impossível, mas necessária meta da perfeição.

Em suma, devemos, para não pecar, fazer sempre o que achamos estar correcto para nós e para os outros, terminando a nossa liberdade quando a do nosso próximo começa e não fazendo aos outros o que não queremos que nos seja feito. Dessa forma, poderemos viver com justiça e harmonia, pelo menos no dependente da nossa parte.

Por último , referir que Immanuel Kant na obra " A fundamentação da metafísica dos costumes" refere que a única característica totalmente boa no ser humano é, exactamente, a boa vontade. A coragem, inteligência e audácia, por exemplo, são á partidas características benéficas, mas deixam-no do ser, quando não utilizadas com uma boa vontade por trás. Assim sendo, para que possamos agir moralmente, devemos incutir uma boa vontade, por via da razão, a todas as nossas acções, agindo apenas, no caso de querermos que a nossa acção se torne lei universal, tocando outra vez no ponto de não fazermos aos outros o que não queiramos que eles nos façam a nós.

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Não querendo minimizar a importância das tuas palavras sobre como devemos agir no nosso dia-a-dia para com quem nos rodeia...gostaria de me focar no título "Pecado" e para tal parto da definiçãO:
Pecado- transgressaão consciente e voluntária da lei divina
(nova encicolpédia larousse)

É realmente de salienter as palavras "consciente e voluntária" que nesse ponto são concordantes com a tua propria definição de pecado.
Mas é também importante nao esquecer que pecar nao é cometer uma qualquer trangressao mas sim transgredir uma "lei divina"... a partir daqui o termo pecado deixa de ser universal!
Ora se eu (p.ex.) nao acreditar na existencia da dita lei divina nao posso incorrer em nenhum pecado!

Por isso acho mais global e prefiro falar em errar, em magoar, em "não fazer aos outros o q nao gosto q me façam a mim"... do que propriamente em pecar e pecado!

Rebeca SC

9:12 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Concordo com a anónima Rebeca, Se não se creditar em deus, não se peca, porque pecar tem a ver com a moral e os costumes da Igreja e se esta não for reconhecida igreja como um orgão importante para mim não vejo porque me reger pela sua moral e costumes. Se tivermos em conta também que para pecar e necesário ter consciencia do acto, e esse acto está ligado com costumes e tradições eclesiasticas, não acreditando independentemente de com ou sem conhecimento não me parece que seja "pecar". Que peque quem acredita.

9:28 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Concordo com os comentários feitos, na medida em que o termo original pecado, prende-se com preceitos religiosos, contudo a questão principal, e é essa que o texto do Mendonça (desculpa lá mas teve de ser!) foca, prende-se com um conceito de pecar (sendo que uma das defenições é errar).
Um conceito pessoal, na medida em que ultrapassou a moral, deixando de ser apenas uma norma imposta pela sociedade/cultura/religião, e tornando-se um valor ético.
Ou seja, de uma forma mais simples, a nossa visão do pecado, o saber que fizes-te uma maldade!
Continuando, sabendo que as noções de pecado podem variar,de religião para religião, e consequêntemente, de sociedade para sociedade,
A questão verdadeira questão prende-se com a nossa interpretação.
Hoje ao ler este artigo, compreendi-te.
(não estando a admitir que és melhor que eu…uma sena dessas só em filmes :P!)
Mas percebi, para ti, o pecado é um acto pensado e intencional.
Estranhamente, concordo!
Era isso que tentei defender, mas pelos vistos estou com problemas de expressão.. ou então, as nossas conversas são simplesmente propícias ao debate!
Contudo, e agora vem a parte que mais gosto.. advinha?
Não sei se sabes mas aqui fica uma das objecção á teoria kantiana:
A noção de bom é algo que varia de pessoa para pessoa, sendo que ao dizeres, devemos fazer aos outros o que queremos que nos façam a nós, estás a ser um pouco arrojado… pois podes estar a querer generalizar comportamentos tais como…
Um Exemplo drástico, o masoquismo.
Essa frase é frequêntemente usada, mas repara… os meus quereres são divergentes dos teus.
O que tu consideras ser uma boa acção (ou seja, algo que fazes de boa intenção), pode não o ser bom aos olhos de outra pessoa.

Ps:Achei engraçada a tua busca pela perfeição, diz algo sobre ti… és um insatisfeito!
Mas apesar de ser uma forma interessante de olhar a vida, não a podes generalizar.

“Esta maneira de estar na vida conduzirá a que me transforme numa melhor pessoa todos os dias e dessa forma erre menos, pecando por isso menos” voltámos ao velho problema relativista, na tua noção ou na minha?
Jesuss

11:50 da tarde  
Blogger Tiago Mendonça said...

Cara Rebeca,

Obrigado pelo contributo útil, que foi a definição enciclopédica de pecado. Segundo essa definição, a palavra pecado tem inerentes adjectivos como consciente e voluntária, o que vem, tal como referiu, ao encontro da opinião que emiti no post. Quanto à questão religiosa, penso que quem nao acreditar em Deus não acreditará que está a pecar perante Deus, mesmo estando a faze-lo. Mas mesmo assim terá que acreditar que peca perante os seus semelhantes, perante a sociedade, a natureza, como tal considero a definição de pecado ampla e abrangente a vários quadrantes da nossa sociedade.

Cara Ana Rita,

Existe uma vincada distinção entre Deus e a Igreja Católica. A Igreja Católica é feita por homens, que por isso mesmo pecam, e poderá ser avaliada sob o ponto de vista racional. Poderá não concordar com a Igreja Católica, mas isso não lhe dará, na minha opinião, o direito de pecar. Penso que é uma questão bem mais ampla que a " moral e os costumes da Igreja " .

Cara Jesuss,

A sua concordância com o artigo colocado advêm, provavelmente, de uma explicação mais ponderada e objectiva da minha opinião. Relativamente a teoria de Kant, Kant defende que devemos incutir uma boa vontade às nossas acções, agindo por dever. Diz ainda que só devemos fazer o que acharmos que se poderia aplicar a lei universal, numa alusão a que não devemos fazer aos outros o que nos fazem a nós. Perante estas duas premissas, do filósofo, não percebi em que se enquadra a questão do masoquismo, uma vez que é uma acção exclusivamente pessoal. Quem pratica masoquismo aplica sofrimento em si próprio e não nos outros, se o fizesse estaria a agredir alguém e seria judicialmente punido. A questão da Boa vontade e da aplicação da máxima utilizada à escala universal são abordados no livro que já referi, recomendando-lhe vivamente a leitura. Por último, a questão da busca da perfeição, é também uma concepcção filosófia e não minha. De qualquer forma, penso que é facilmente perceptivel e aceite pela generalidade das pessoas que devemos ser melhores todos os dias, penso que a sua opinião não deverá ser diferente. Penso que essa postura não revela insatisfação, pelo contrário,revela ambição e vontade de superação deixando de lado o acomodamento ou a aceitação tácita e preminilar das coisas.

1:58 da tarde  

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