21 outubro, 2006

Efeito de Enquadramento- Aborto

Sendo a questão da despenalização ou penalização da prática de Aborto, uma das questões mais fracturantes da sociedade Portuguesa, é complicadíssimo analisar todos os factores relacionados com esta questão, recheada de inerências antagónicas. Por isso, decidi apenas expor um dos caminhos que poderão ser seguidos para se pensar na melhor solução. O caminho da conjuntura.

Vamos imaginar que colocávamos à mesma pessoa 5 perguntas estruturais sobre o aborto ( conferindo a 5ª questão um efeito de enquadramento provocado pelas 4 perguntas anteriores). Assim sendo, admitamos um primeiro questionário:

Concorda com o Direito à vida ?
Pensa que alguém tem o direito de matar uma criança inocente?
Concordaria se a sua mãe , tivesse abordado e por isso o seu irmão não fosse vivo?
Considera a morte algo justificável?
Concorda com a prática de Aborto?

Neste caso penso que 99 por cento das pessoas responderiam que Não concordavam com a prática de Aborto, pelo efeito de enquadramento criado pelas quatro questões que antecediam a pergunta sobre a despenalização da interrupção voluntária da gravidez. Vejamos agora um segundo questionário:

Concorda com a liberdade de Escolha?
Não deverá a Mãe mandar no seu próprio corpo ?
Deverá nascer um filho indesejado?
As crianças que nascem na miséria e são abandonadas porque não ouve permissão para a mãe abortar, não estariam melhor não tendo vindo a este mundo?
Concorda, que a mulher deve poder optar por interromper a gravidez ou não?

Bom, neste caso penso que 99 por cento das pessoas responderiam que o aborto deveria ser despenalizado, também fruto de um efeito de enquadramento.

Poderíamos considerar que a argumentação do Não é mais forte, que o direito a vida deve prevalecer, mas será que os argumentos do Sim não serão também plausíveis? Neste sentido criou-se uma lei de consenso que vigora em Portugal, onde o aborto é possível em casos de má formação do feto, perigo de vida para a mãe ou em casos de violação. Mas os defensores do Sim continuam a achar que esta lei não é suficiente, querendo uma despenalização total. Os defensores do não consideram que estes casos cobrem perfeitamente a necessidade de abortar e que tudo o resto derivará da irresponsabilidade das pessoas.

O que é certo, é que existem questões defendidas pelo Sim que são aceitáveis e pelo Não também. As questões estruturais do aborto são complexas e poderão pender para qualquer um dos lados. Nesse sentido, quanto a mim, poderia se colocar uma questão conjuntural : Estará a sociedade Portuguesa, em particular, preparada para o aborto ser totalmente legal ?

Neste caso a discussão seria acerca da sociedade e dos comportamentos responsáveis ou irresponsáveis da sociedade portuguesa. Nesse sentido, deveriam ser analisados alguns dados que temos ao dispor, como o número de pilúlas do dia seguinte que os jovens adquirem ( muito acima da média suportada pelo organismo da mulher ), o número de relações desprotegidas ou então elaborado um estudo onde se comparasse o número de relações sexuais desprotegidas com o aparecimento da pilula do dia seguinte.

Desta forma, "esquecendo-se", a questão estrutural desta problemática, iriamos para um problema, que do meu ponto de vista é bem mais fácil de perceber e solucionar:Se a sociedade portuguesa tem ou não condições para legalizar o aborto.

6 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Ola Tiago:
se me perguntares se concordo com a legalizaçao do aborto a minha resposta imediata seria : nao. acho que as condiçoes em que o aborto é permitido sao as suficientes e que o resto sao purisimplesmente descuidos, alias inresponsabilidade dos parceiros.
se me fosse colocado um caso , de uma jovem, com boas condiçoes financeiras, que numa das suas relaçoes sexuais com o namorado nao usou persevativo e engravida,nao querendo ter o filho e abortasse eu diria que a jovem era uma inresponsavel e uma ' criminosa' pois tirou a vida de uma criança que tinha todo o direito de viver.
Mas como tu escreveste, as coisas podem ser observadas de varias prespectivas e a minha opiniao mudaria.
Apesar de tudo, acho que o principal problema se o aborto for legalizado seria o impacto que teria na sociedade portuguesa. por um lado, seria bastante positivo ja que sendo legal ou nao , a pratica de abortos continua a ser feita, quer em espanha , quer em portugal em 'clinicas ilegais' com más condiçoes em todos os niveis , podendo por assim em risco a saude da mulher. mas por outro lado, ao ser legalizado , creio q com a mentalidade da sociedade portuguesa, particularmente os jovens , os jovens ao terem relaçoes sexuais nao dariam tanta importancia, melhor dizendo , dariam MENOS importancia ao uso de metodos contraceptivos , ja que haveria sempre uma soluçao : abortar.
Na escola , na disciplina de Area de Projecto , o meu grupo escolheu abordar este tema e com poucas horas de pesquisa e troca de impressoes , apercebi-me que este tema da despenalizaçao do aborto é muito mais complexo do que aparenta.
Gostei de ler o teu post e saber a tua opiniao sobre este assunto que me transtorna.
Apesar de tudo, a minha opiniao mantem-se : so engravida em quer. Claro que podem haver acidentes, que sao muito pouco provaveis de acontecer, mas temos a soluçao : a pilula do dia seguinte ( que pode ser tomada no maximo 3x num ano, se nao estou em erro ) Para mim, se todas as precausoes forem tomadas, o aborto é algo desnecessario ( apesar de concordar com as 3 exepçoes em que se torna legal abortar)

Fica aqui a minha opiniao e o meu agrado por abordares este tipo de temas. Gostei muito deste artigo.

Um beijo. Continua

4:46 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Tudo o que tinha para dizer já foi dito pela Cristina. Só não concordo com algumas coisas aqui mencionadas:

"creio q com a mentalidade da sociedade portuguesa, particularmente os jovens , os jovens ao terem relaçoes sexuais nao dariam tanta importancia, melhor dizendo , dariam MENOS importancia ao uso de metodos contraceptivos , ja que haveria sempre uma soluçao : abortar."

Não concordo porque tenho a certeza que muitas pessoas não teriam possibilidades para pagar a uma clinica a realização dum aborto. E antes pagar uma caixa de preservativos que uma intervenção cirurgica. Além disso, e se pensarmos assim não damos uso ao ditado "antes prevenir que remediar" e acabamos sempre por cometer o erro sem que haja preocupação em evita-lo, uma vez que há soluções para o remediar.. E isso não é correcto e cada pessoa DEVIA ter isso em mente.

"a pilula do dia seguinte ( que pode ser tomada no maximo 3x num ano, se nao estou em erro )"

Posso ter ouvido mal mas lembro-me que a minha 'stora de Biologia do ano passado nos disse que a pílula do dia seguinte só podia ser tomada 2 x's no máximo.. não num ano.. mas sim numa vida. Isto porque esta contracepção de emergência possui uma quantidade de hormonas brutalissima e que, em muitos casos, o corpo não aguenta e a pessoa pode vir a sofrer de graves problemas.

Gostei muito deste post e há coisas sobre as quais falaste que eu ainda não tinha reflectido. Obrigada.

3:14 da tarde  
Blogger Tiago Mendonça said...

Cara Cristina e Cara Ana,

Obrigado, em primeiro lugar, pelos vossos assiduos comentários. É com enorme prazer que começo a ter um grupo definido de leitores, que me ajudam na construcção e manutenção deste blogue. Sobre o assunto em questão, quero salientar três aspectos que vão ao encontro do que ambas focaram nos comentários: A questão da pilula do dia seguinte, de facto podem-se tomar três pilulas durante toda a vida. De qualquer forma cerca de 1/5 das jovens de hoje , já a tomaram e uma grande percentagem ja ultrapassou o limite das tres. Quanto a questão do aborto, penso que é importante desmistificar-se uma questão : Um aborto precoce por exemplo até as 10 semanas, poderá ser feito por via de comprimidos, não sendo necessária a operação cirugica e os elevados gastos, que esão normalmente apontados como os principais argumentos por parte da campanha do Sim. Por último, a questão dos preservativos: Penso que o governo deveria implementar uma forte distribuição gratuita de preservativos, que chegasse de forma efectiva a todos os jovens, uma vez que é sabido, que a distribuição gratuita em centros de saúde não cobre o real problema, sendo os jovens obrigados a comprar este método contraceptivo. O custo de uma caixa de preservativos com 6 unidades é cerca de 4 euros. Será que todos têm possibilidade de os comprar? Julgo que não.

3:29 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

..aqui está um tema que faz "comichão" a muita gente e que levanta inúmeras questões. "Pensa que alguém tem o direito de matar uma criança inocente?"..isto nem sequer se deve por em questão..a dúvida é: no ventre materno, sendo que a fecundação se deu apenas à 10 dias, já existe uma criança?

..Bem deixando esse ponto de lado, Tiago sem ofensa à quanto tempo nao compras preservativos?..uma caixa de preservativos custa à volta de 5€/6€ minimo, mas isso nem é desculpa a distribuição de contraceptivos orais nos centros de saúde etc. está a evoluir e muito, é cada vez mais fácil adquirir uma caixa de pilulas, falta de dinheiro nao é desculpa. Mas quem escreve o que escrevi esquece-se de um pequeno, grande promenor, as doenças sexualmente transmissiveis e esse ponto vai tocar no que a "Cristina" escreveu.."haveria sempre uma soluçao : abortar."..então as doenças sexualmente transmissiveis?..acham que as pessoas, só por haver uma solução para a gravidez indesejada, vão deixar de pensar nas doenças que se podem contrair através do contacto sexual com outra pessoa?(eu refiro-me às pessoas que já se preocupam actualmente)É obvio que não. Nao acredito que a industria do preservativo vá sair prejudicada caso o aborto se torne totalmente legal.

Quanto às pilulas do dia seguinte nao tenho nada a comentar que nao tenha sido já comentado..toda a gente conhece as estatisticas e conhece as consequencias do consumo continuado da mesma.

Agora, penso que nao é muito agradável saber se que se é um filho indesejado.
Quem pode e quer fazer um aborto..se nao o faz em Portugal ou o faz em Espanha em o faz clandestinamente o que mata dezenas de mulheres por ano, nao só em Portugal como em outros países que penalizam o aborto. Será moral deixar que uma mulher se arrisque só porque nao está preparada para ter uma criança?

Há tanto para discutir sobre isto..
Parabens pelo blog Tiago..um beijo*saudade

10:18 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Só um comentário ao comentário da Márica!!
Acho engraçado é que a maioria dos jovens se queixe desse preço nos preservativos mas os veja a fumar, coisa que tb não está muito barata!! O preço do cinema tb tem vindo a subir do cinema e de muita coisa... Mas lá pk o preço das calças sobem, espera-se um mês pas comprar. Agora comprar preservativos?? oh, claro que não isso é carissimo. Isso das doenças é invenção... enfim...

10:32 da tarde  
Blogger Tiago Mendonça said...

Cara Márcia,

Obrigado pela sua visita ao meu blogue. Quanto ao comentário, fala em existir ou não criança aos 10 dias. Ou foi um erro de vocabulário e quis disser 10 semanas ( sendo esses um dos pontos debatidos actualmente ) ou então se quis disser mesmo 10 dias, considero que é uma pergunta fora do contexto, uma vez que é praticamente impossível, senão mesmo, impossível uma mulher saber se está grávida 10 dias após a fecundação. Quanto às doenças sexulamente transmíssiveis, penso que tem que existir um real combate a esse flagelo, e na minha opinião, tudo o que seja feito no sentido de retirar o lugar primordial do preservativo é contribuir para o possível aumento das mesmas. A questão do filho indesejado, quando colocada sozinha induz para uma resposta, como outras questões quando colocadas sozinhas induzem para outra resposta, devido ao afectamento do efeito de enquadramento, tal como foi exposto no post. Por último, a questão de se ir abortar fora do país, uma questão : Se a pedofilia, o tráfico de droga ou até o assasinato fossem lícitos noutro país, teriamos que legalizar essas situações no nosso país para que o fizessem só fora dele? É que concordando ou não com o aborto, neste momento a interrupcção voluntária da gravidez enquadra-se na lei portuguesa como um crime.

10:35 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home